segunda-feira, 16 de maio de 2016

OS MINERAIS E A ÁGUA


Há  minerais que morrem de sede,  outros que morrem afogados e outros ainda que morrem afogados, renascem e voltam a morrer.  Vejam por quê.
      Muitas espécies minerais contêm água na composição química. Entre eles, destacam-se os minerais do grande grupo das zeólitas. São dezenas de minerais hidratados, que podem perder essa água, mas recuperá-la de novo sem maiores alterações. Isso, aliás, tem importantes implicações, tornando-os muito úteis na agricultura e em variados setores da indústria.
      Há, porém uma zeólita que tem comportamento diferenciado. Trata-se da laumontita. Esta quando se desidrata simplesmente se esboroa toda. Seus cristais prismáticos viram uma farinha e não há como reverter esse processo. Por isso, é difícil encontrar laumontita bem cristalizada. Ela pode ser assim vista em pedreiras e minas, mas só onde há material recém-desmontado.
      Menos frágil, mas muito mais nobre que a laumontita é a opala, uma pedra preciosa. Ela também contém água e, se for mantida em ambientes de temperatura elevadas, pode perdê-la e se quebrar.
Mas, se há minerais que morrem por falta d’água, há também os que  morrem  por excesso dela.  Halita, carnallita e silvita, por exemplo. São minerais higroscópicos e, se deixados em atmosfera úmida, vão se dissolvendo, até virar um líquido. Halita é o nome mineralógico do sal que usamos nos alimentos, e quem cozinha sabe que ele se dissolve em ambiente húmido.
Por fim, há minerais que são sazonais, como certas frutas: formam-se no verão, desaparecem no inverno ou na estação chuvosa, voltando a se formar no verão seguinte.
A sinjarita ocorre no leito seco de um rio intermitente de Sinjar, no Iraque (daí o nome). Ela forma-se em sedimentos recentes por evaporação lenta de água subterrânea saturada em Ca2+ e Cl-. Mas, como é altamente higroscópica, pode desaparecer na estação chuvosa, reaparecendo na estação seca seguinte.
A hidrocloroborita foi descoberta na China e descrita em 1965. Em 1966, foi divulgada uma segunda ocorrência na localidade de Salar Carcote, em Antofagasta (Chile), onde os cristais foram encontrados em uma camada contínua e irregular com cerca de 15 cm de espessura. Os autores que a estudaram, ao procurarem novamente o mineral em outra ocasião, mas na mesma localidade, não o acharam. Verificaram então que o nível freático (nível da água subterrânea) estava alguns decímetros apenas abaixo da camada que continha o mineral, em cota superior à da época em que o mesmo havia sido descrito inicialmente. Com isso, concluíram que a hidrocloroborita é um mineral sazonal, que se dissolve nas estações úmidas, voltando a cristalizar em estações secas.
A antarticita, descoberta em Terra de Vitória, na Antártica, constitui uma forma mais hidratada de sinjarita, que funde a 30 oC e, por isso, é destruída nas estações secas, se a temperatura atingir aquele valor. Formas menos hidratadas que a antarticita e mais hidratadas que a sinjarita foram obtidas sinteticamente, mas ainda não foram encontradas na natureza.

Outro interessante mineral sazonal é a acetamida, uma amida cristalina derivada do ácido acético Ela foi descoberta em rejeitos de uma mina de carvão da antiga União Soviética, onde se forma durante estações secas em áreas enriquecidas em amônia e isoladas do contato com oxigênio e luz solar. Se exposta ao sol, o mineral volatiliza-se em apenas algumas horas.

6 comentários:

  1. Muito interesante articulo Percio, obrigado. Saludacoes.

    ResponderExcluir
  2. Como sempre seus texto interessantes e oportunos, pois recentemente perdi um espécime de Halita Rosa e um de Calcantita, de minha coleção, por causa da umidade. A cidade em que resido, Santa Maria, uma característica do clima é a umidade.
    Me ensinaram a passar uma camada de verniz no espécime, mas não usei a ideia poque não uso nada que descaracterize o mineral, então parti para uma ideia caseira mesmo, que é enrolar os espécimes sensíveis a água em plástico filme ou filme plástico. Com isto não deixo de protegê-los e não perco o prazer de admirá-los.
    Forte abraço,
    Fernando Flores Oliveira
    fernando.flores.ffo@gmail.com

    ResponderExcluir
  3. Fernando, eu também acho ruim usar verniz.
    Gostei da sua solução.
    Um abraço.

    ResponderExcluir